Propriedade Privada e a Paz (Parte 2)
- Dr. Rafael Alvarenga
- Aug 13, 2021
- 2 min read
Talvez seja uma boa oportunidade para se refutar um dos argumentos mais comuns daqueles que caluniam a propriedade privada. Há quem diga que ela estimula a ganância, ou que nasce desta; que os frutos do esforço e trabalho nunca são de fato individuais, mas fruto de uma série de privilégios que antecedem o benefício que concedem aos que dela usufruem devendo, portanto, serem equalizados ou retornarem à sociedade no seu sentido amplo. Alguma variação da analogia do índio construir a canoa para a tribo e não para si mesmo frequentemente completa o argumento.
O problema dessa linha de pensamento, descontado o malabarismo verbal e as falácias que, via de regra, a acompanham, é que aqueles que a defendem nunca conseguem explicar por que é ganância alguém querer reter para si os frutos de seu trabalho, mas não é ganância roubar o trabalho dos outros. Sem mencionar que nós simplesmente não somos mais uma tribo de nômades catadores que vivem de caça, pesca e colheita de vegetais que surgem espontaneamente da terra. Alimentar, dar moradia, conforto e todas as conveniências das quais ninguém está disposto a abrir mão na sociedade atual, como a medicina moderna, transporte entre continentes numa questão de horas, internet de altíssima velocidade, comida orgânica e entretenimento sob demanda, não explicam como isso funcionaria com meia dúzia de canoas se a tribo tiver 5 milhões de pessoas, número absolutamente normal de algumas cidades ao redor do mundo.

Isso não significa dizer que a propriedade privada, assim como qualquer outra invenção humana, seja perfeita. Nada que deriva de seres imperfeitos pode ser perfeito. Existe sempre a necessidade de aprimorar os mecanismos que nos possibilitam viver em sociedade. Esse aprimoramento deve levar em conta o que é desejável, mas não pode se esquecer do que é possível. Cada solução não pode criar problemas piores do que os que pretende resolver. Os governos foram criados exatamente para isso.
Se os homens fossem anjos, nenhum governo seria necessário. Se fossem demônios, nenhum seria suficiente. A propriedade privada é, portanto, o melhor escudo já inventado contra a força bruta. Sem ela, não existe nenhuma garantia do mais fraco contra o mais forte. E sempre existe alguém mais forte do que nós mesmos. E ninguém é mais forte que o Estado. Sem ela, qualquer força, seja física, derivada do direito divino, ou criada pela força do pertencimento à opinião da maioria democrática, pode esmagar qualquer um.
Comments